segunda-feira, 24 de maio de 2010

176 - VOLTAR À VIDA.
















Depois do que se passou comigo em La Puebla de Cazalla, depois de um ano a engordar, dos meses sempre com chuva, da falta de confiança, estava necessitado de fazer qualquer coisa que me trouxesse de volta à vida.

Posso participar ou não nas cicloturistas que me aprouver, mas há uma a que não posso faltar. Pela amizade que me ofereceram os companheiros espanhóis de Espartinas ao longo de anos, pelos cuidados que D. Manuel Carrasco tem tido comigo todo este Inverno, procurando animar-me, e finalmente pelo que lhes devemos, ciclistas do Algarve, pela vinda daquele clube a Portimão e a Albufeira, não posso nem devo faltar à corrida de Espartinas no próximo dia 13 de Junho.

Em La Puebla estava com uma total falta de confiança e decidi não alinhar à partida. Sentia que ia falhar, não estava em condições para suportar uma corrida tão difícil. Ainda tenho peso demasiado, e sobretudo na montanha tenho grandes dificuldades. Tenho treinado muito, mas era necessário poder avaliar como estou, para ter a certeza de que posso ir a Espartinas e não voltar a desistir.

Este Brevet Terras do Infante era a oportunidade soberana para testar como estou. Sobretudo para vencer os meus medos, se conseguisse terminar a prova já não seria mau, porque de certeza não iria ser fácil, as equipas presentes são muito boas e eu, não tendo uma equipa, teria que correr por outra que me permitisse alinhar por eles. A incerteza se estaria à altura para fazer 97 quilómetros sempre num ritmo muito elevado, com companheiros que não conhecia, certamente mais jovens do que eu, deixava-me apreensivo. Mas tinha que o fazer, se não o fizesse nunca saberia se estava à altura de voltar a correr numa prova desta dificuldade. Então lá ganhei coragem e fui.

Corri pelo Ciclo Clube de Lagos, equipa que organizou o evento, e me permitiu considerar-me um deles. O meu sincero "Obrigado" pela maneira cordial com que me acolheram.

Estive "no elástico" muitas vezes, ficava para trás nas subidas, recuperava no terreno plano, descia naturalmente bem. Cheguei a pensar que não ia aguentar, tive cãibras, mas lá as aguentei. O que não nos mata torna-nos mais fortes. Era para isso que eu estava ali. Seria um treino precioso para Espartinas, como o irá ser o Portimão - Fóia.

Ao entrarmos no concelho de Lagos, ao aproximar-se a linha da meta, o ritmo tornou-se alucinante, pensei muitas vezes que não ia conseguir. Dois quilómetros, só faltam dois quilómetros, não é agora que vais partir. Aguenta coração, aguenta. Lembrei-me de um puto, que em Brenes, na Espanha, me gritou quando eu subia para a meta: "no dudes, tu puedes!" Esse puto deu-me ânimo para ter um último fôlego para ser mais rápido. Agora voltava-me à memória e dava-me uma última força, um só quilómetro, "no dudes, tu puedes!!!"

Fizemos um tempo que não se reflecte no diploma. Parámos quinze minutos quando um companheiro furou. Podíamos continuar sem ele, éramos nove e só o quinto elemento é que contava para medir os tempos. Mas prevaleceu o espírito de companheirismo, embarcámos juntos naquela aventura, chegaríamos juntos a Lagos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

175 - 8ª MARCHA VILLA DE ESPARTINAS

Pela oitava vez a linda vila de Espartinas, nos arredores de Sevilha, acolhe a corrida de cicloturismo do Club Ciclista local, num percurso de 105,5 quilómetros, com concentração às 8,30 do dia 13 de Junho, para assinar o ponto e recolha de dorsais, na Caseta Municipal de Féria, Avenida Jerónimo Leal Navarro, junto à Praça de Toiros.
Às 8,45 será feita a chamada, e às 8,50 dar-se-á início à saída neutralizada, sendo a partida real às 9 horas na rotunda da estrada para Villanueva del Ariscal.
Haverá um troço de roda-livre a partir do quilómetro 27,1, com início na porta da Barragem de Agrio, numa distância de 21,5 quilómetros, com chegada ao Alto(puerto) del Acebuche.
Ao quilómetro 54,4, no Castelo de Las Guardas haverá uma paragem para abastecimento e reagrupamento do pelotão.
A chegada está prevista para entre as 13,12 e as 13,51, no mesmo local de onde partiu a corrida. No mesmo local será servido o almoço e se entregarão os prémios. Em frente à Caseta Municipal, no Estádio Municipal de Tablantes, serão os banhos.
A título informativo faz-se saber que aos quilómetros 5, 23, 62,83, 99 e 102 há bombas de gasolina, onde eventualmente se pode comprar comida e bebidas, se bem que o abastecimento é muito mais completo do que nos passeios em Portugal (toda a espécie de sumos, frutas variadas, sanduiches diversas, bolos, bolachas, frutos secos, barras energéticas, Aquarius, chocolate, etc.).
O Club Ciclista de Espartinas esteve presente na IX Clássica Portimão - Fóia e no Passeio da Juventude Desportiva das Fontaínhas. Seria bonito que desta vez fossem os portugueses a visitar os nossos companheiros espanhóis. Devemos-lhe isso, não? Se eles foram capazes de vir a Portugal nós também seremos capazes de ir a Espanha, não é?
Camaradas nossos de Vila Real de Santo António são presença assídua nesta Marcha, o que só por si revela o interesse que ela costuma despertar.
Perguntas ou informações em chefesantos@sapo.pt ou 964550015.

terça-feira, 11 de maio de 2010

174 - ESTÁ AÍ A X PORTIMÃO - FÓIA

No dia 3 de Junho aí está a 10 edição da Portimão-Fóia, este ano com passagem pelo Alferce.
Para aqueles que passam a vida a criticar o cicloturismo que se faz no Algarve, por ser uma coisa só para comilões pançudos e beberrões, aqui está a oportunidade de fazerem ciclismo como gostam.
São 55 km sempre a subir, com a concentação agendada para as 7 horas, e a partida da primeira equipa às 8.
Inscrições e informações em centrociclismoportimao@gmail.com ou pelos telefones 289 463 628, 966 007 703 e 917 269 475.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

173 - COM OS FRACASSOS TAMBÉM SE ESCREVEM ESTÓRIAS.



Diz-se que dos fracos não reza a História. Mas este não é um blogue de Histórias, mas sim de estórias, e esta é a estória de um dia, que tendo sido um fracasso, desportivamente falando, acabou por se transformar numa bela jornada de prazer.

Anunciei no post anterior que iria participar no "Ascenso al Santuário de la Virgen de la Sierra" em Cabra, uma cidadezinha na província de Córdoba. A região tem belas corridas de cicloturismo, todas muito difíceis, cimentadas numa grande tradição ciclística, e esta seria a 20ª edição duma prova com pergaminhos. Inscrevi-me atempadamente, pedi a necessária autorização à Federação para correr no estrangeiro, reservei hotel numa aldeia chamada Zuheros, nas proximidades de Cabra, uma vez que nos hotéis da cidade não foi possível encontrar uma vaga para aquele fim-de-semana. A minha esposa tinha folga nos mesmos dias, e decidimos usar o pretexto do ciclismo para uma escapada de fim-de-semana.

Eis que durante a semana recebo um e-mail da organização a anunciar que, por falta de participantes, a cicloturista é adiada para Setembro. E agora? Fico em casa e renuncio ao hotel que já paguei e ao fim-de-semana com a minha mulher?

Há uma outra hipótese. Em La Puebla de Cazalla, a 150 quilómetros de Cabra, realiza-se mais uma etapa do 2º Circuito da Província de Sevilha. Só tenho que pedir que me aceitem, este ano não me inscrevi no circuito por não me sentir em forma, mas sou amigo do principal responsável pelo Circuito, o Chiqui de Fuentes de Andalucía, que prontamente me respondeu que, sim senhor, para mim sempre haveria lugar na corrida.

No sábado trabalhei com um horário que me permitiu sair mais cedo, a minha mulher foi-me buscar a Quarteira e partimos para Zuheros. Quase 500 quilómetros a toda a velocidade, a ver se não chegávamos depois da meia-noite, o hotel é uma coisa pequenita, não era suposto ter recepcionista nocturno, e ainda tínhamos que jantar.

Correu bem a viagem, chegámos a tempo de jantar.Um jantar muito porreiro, por sinal. Produtos da terra, cozinha típica, mas com "rafinesse". É que eu sou cozinheiro, e estas coisas interessam-me. Pedimos dois descafeinados, não consigo dormir se beber uma bica normal. Muitas vezes tenho mesmo que tomar comprimidos para dormir, sobretudo se estiver excitado por qualquer motivo. Depois ainda deu para uma voltinha nocturna pela aldeia, que se revelou admirável pela sua História e pelo bucolismo que só os lugares da Andalucía e do Alentejo sabem exibir. É assim uma coisa como Monsaraz ou Óbidos.

E ala que se faz tarde, que amanhã temos que nos levantar às 6 e fazer ainda mais 150 km até La Puebla.

Às duas da manhã ainda estava acordado! Tomei um Stilnox para dormir. O "gamela" da cafetaria deu-me de certeza café com cafeína, filho da "p..."!

Às três ainda não conseguia dormir, mesmo debaixo do efeito do comprimido. Que fazer? Tomar outro? Nunca tinha tomado dois, agora a ansiedade por não conseguir dormir, e saber que tinha que me levantar dali a pouco e ir fazer uma prova de ciclismo duríssima, com rampas que atingiam as cotas de 20%, estava a tomar conta de mim.

Decidi-me por uma segunda dose. Fosse o que Deus quisesse...

Adormeci. Os comprimidos lá fizeram efeito...

Acordei de noite, antes do despertador tocar. Não sei que horas eram. Era de noite e o despertador, marcado para as 6 ainda não tinha tocado. Na janela do nosso quarto um pardal chilreava incessantemente, anunciando que o dia estava prestes a começar. Levantei-me, fechei a janela, mas o "gajo" recomeçou a cantoria.

Não valia a pena deitar-me outra vez. A minha mulher dormia como uma santa, não há cafés nem aves canoras que a deitem abaixo.

Fui barbear-me e tomar um duche. Depois acordei-a para nos despacharmos. Enquanto se ultimava levei as coisas para o carro. Fizémos-nos ao caminho, mas estava decididamente de mau-humor e com a moral em baixo. Tinha-me mesmo apetecido era ficar no quentinho da cama, tomar um pequeno-almoço à maneira, conhecer a região e provar a gastronomia andaluz.

Para cúmulo começou a chover. E a perspectiva de ir fazer a corrida com chuva e muita montanha não era animadora. Não é que não tenha já feito muitas nessas circunstâncias, mas depois duma viagem tão grande num dia em que já tinha trabalhado e da noite sem dormir, tudo já era pretexto para desistir. Além do mais tinha outro problema: o medo de falhar!!!

Estou decididamente num limbo. Primeiro foi a operação às hérnias que me deixou com dores num testículo quando pedalo, sobretudo se me baixo na bicicleta. Correr com uns calções muito apertados ajuda, mas retraio-me sempre com medo da dor. Depois são as eternas dores nas costas, que me levaram a estar muito tempo sem treinar, conduzindo a um ganho de peso que não consigo derreter, nem mesmo com a muita corrida a pé que tenho feito. Deixei de fumar e o peso tornou-se num martírio, aumentei CATORZE quilos em poucos meses...O exercício físico não é suficiente para que eu consiga voltar ao peso que tinha antes. O Inverno que teima em não nos deixar, acentuou ainda mais a minha falta de forma. Estou pesado e com falta de treinos. Comprei uns rolos, mas pedalar naquilo é uma seca, se bem que sinta que são eficazes.

No ano passado começaram as agruras. Desisti pela primeira vez numa corrida em Guillena. Depois comecei a ter dificuldades em manter-me no pelotão, bastava um momento de distracção, ou uma ocorrência anormal, para perder o contacto com o pelotão. E quem anda nisto sabe que quando se perde o contacto com o pelotão a corrida está acabada. O esforço para reentrar é a dobrar, ficamos extenuados, e depois tudo se torna mais difícil, sobretudo se não estamos em forma. Antes, quando pesava 69 kg e estava em boas condições físicas, mesmo sendo fumador, nem me apercebia do que se passava na cauda do pelotão, aliás, ia lá atrás e voltava para a frente sem qualquer problema. Podia parar para urinar, fazer fotografias, vestir um impermeável, que nem sabia o que era sofrer. Não me passava pela cabeça do drama daqueles que vão no fim da corrida. Agora o medo apoderou-se de mim. Tenho medo de falhar, medo de não ser capaz. Sei que estou muito pesado e sei que vou sofrer para conseguir chegar ao fim. E qualquer desculpa me serve para dizer que não devo participar.

Apresentei-me em La Puebla completamente desanimado. E nem o reencontro com os amigos espanhóis, que me saudaram efusivamente me fez animar. O Juan Leal, o Manuel Carrasco, a Cristina, o Juan de Huelva, o Chiqui de Fuentes, os de Espartinas, os de Lora, todos me animavam mas eu, sob o pretexto de que iria chover, já me tinha decidido a não correr.

E foi com muita tristeza, e com um sentimento de frustração que os fui ver passar no Puerto del Madroñal, uma rampa com 16 por cento. Ali percebi que alguns devem estar piores do que eu, bem cheios de carnes, a pedalar aos "ésses" para conseguirem chegar ao alto, e no carro-vassoura já iam pelo menos uns 7 ou 8, ainda só tinham decorrido 17 km de prova, mas já com uma subida anterior de 14 por cento. Ao passarem por mim muitos me saudavam, mesmo com os bofes a saírem pela boca. Chiqui gritou: "coño, João, que nos has escapado.."

Rei morto, rei posto. Vamos para Córdoba curtir o fim-de-semana. Vão-se os anéis, fiquem os dedos. Fazíamos anos de casados, que se lixe. Vamos mas é comer umas tapas e visitar a cidade.

E que bela cidade!!! E que boa comida!!! E melhor bebida!!! Assim lá se vai a forma, mas também não se pode ter tudo, não é?

E um episódio curioso: algures no caminho para Córdoba, na estrada entre Osuna e Écija, num lugar chamado Aguadulce vejo lá ao longe um ciclista treinando sozinho. Parece-me reconhecê-lo, e vejo que ele olha intrigado para nós. E não é que nos conhecemos? Somos mesmo amigos e já aqui escrevi sobre ele. Chama-se Álvaro Prieto, mora numa aldeia das redondezas chamada El Rúbio, faz parte do Clube Cicloturista de Herrera, e foi, nada mais, nada menos, que o campeão absoluto do Circuito no ano passado. Este ano resolveu não participar, para poder planear a época para outras coisas, nomeadamente a La Sufrida e a Quebrantahuesos. No meio de nenhures encontrar um amigo assim, é um acaso incrível.
Vamos a ver se consigo ultrapassar os meus medos, pôr-me em forma outra vez e estar em Espartinas com a mesma confiança que tinha antes.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

172 - É FIXE NO CERRO DE S. MIGUEL










Contei 42 eventos de cicloturismo no calendário algarvio para esta época. Sei que mais haverá que não estão contabilizados neste calendário. Mas seguramente que aquelas pessoas que no final do 2º Passeio do Monte Figo Team estavam desapontadas pela dificuldade do percurso, algumas mesmo zangadas, apesar da equipa organizadora ter efectuado um trabalho notável de organização, informação e promoção do evento, onde nem sequer faltou um mapa e um gráfico com a altimetria, pelo que ninguém pode alegar desconhecer da dureza do itinerário, digo, aquelas pessoas terão de certeza oportunidades mais que suficientes para poderem fazer passeios de cicloturismo adequados à sua idade, condição física, ou mesmo à sua natureza. Mas deixem-nos, aos que gostamos de ciclismo, não só sob a forma de turismo, mas de vez em quando sob a forma de ciclismo mesmo, de de vez em quando termos também a possibilidade de termos um passeio um pouco mais difícil, afinal é por isso que treinamos tantos quilómetros, é por isso que vamos à Fóia ou ao Malhão de 15 em 15 dias, é por isso que fizemos horas extraordinárias para comprar uma bicicleta tão cara, que temos roupa de ciclista igual à dos profissionais.

Eu concordo que este passeio do Monte Figo Team é um tanto duro para alguns. É verdade, e temos que ter passeios para todos. Mas a grande maioria dos passeios é de dificuldade baixa. Um ou outro, de vez em quando, com maior dificuldade, não serão razão para os companheiros menos preparados se deixarem abater.

Eu gostei. Gostei mesmo muito. E não foi só do percurso. Foi tudo! Impecável esteve esta organização do Monte Figo Team.

Comecei o dia com as já habituais dores nas costas. Na véspera saí para o trabalho de bicicleta e tive de voltar a casa, para deixar a "burra". Tinha tantas dores que não conseguia pedalar. Fui de carro.
Felizmente as dores passaram e o dia correu muito bem. Sinto que pouco a pouco estou a recuperar a forma. Subi bem, podia ter puxado mais por mim se fosse necessário. No próximo domingo corro em Córdoba, 95 quilómetros, os últimos 10 em roda-livre, com uma ascensão aos 1350 metros, no Santuário Virgen de La Sierra, em Cabra, província de Córdoba. Este passeio serviu às mil-maravilhas como treino para domingo. Queiram as dores nas costas deixarem-me em paz...