155 - RETROSPECTIVA DE 2009 - UM ANO PÉSSIMO

Apesar de sempre ter gostado de ciclismo, só em 2005, quase com 50 anos, tive ensejo de comprar a minha primeira bicicleta de estrada. Sempre houve outras prioridades na minha vida, e mesmo aquela bicicleta em 3ª ou 4ª mão, uma Cinelli com 26 anos que ainda utilizo quando vou para o trabalho, pesa mais de 11 quilos, e tinha as mudanças no quadro, que depois mandei alterar para o guiador. Mas o facto decisivo neste meu amor pelo ciclismo foi a possibilidade, pela 1ª vez desde que abracei a profissão de cozinheiro, de ter folga ao Domingo. Trabalho longe de casa, em Quarteira, apesar de viver em Albufeira, onde poderia facilmente encontrar um emprego, mas esse facto permite-me deslocar-me de bicicleta para o emprego, e assim manter um treino diário.

Durante anos pugnei por ser um bom profissional de cozinha. Dediquei-me de alma e coração ao meu trabalho, desbravei caminhos para criar uma cozinha de autor, viajei pelo estrangeiro para conhecer o que se cozinhava lá fora, comprei centenas (centenas mesmo) de grandes livros de cozinha, fiz estágios e cursos, fui um dos primeiros a fazer "nouvelle cuisine" em Portugal, participei em concursos onde fui várias vezes medalhado. Mas tudo isso se tornou irrelevante quando no actual emprego me deram a possibilidade de ter folga ao Domingo. Isso alterava tudo, agora já podia ir aos passeios dos clubes, já valia a pena investir numa bicicleta a sério. Não importa se o trabalho é menos interessante, ou se eventualmente poderia ganhar mais noutro lugar, ou se trabalhando onde resido não teria tantas despesas em deslocações.

Assim, tendo começado a sentir alguma confiança com a bicicleta aventurei-me no primeiro passeio de cicloturismo, na primeira subida á Fóia, ao Alto do Malhão e fui mesmo á Serra da Estrela, que subi por Manteigas e pela Covilhã.

Em 2006, ano inicial nestas coisas do cicloturismo e ciclodesporto participei somente em dez eventos:

1 - Etapa da Volta ao Algarve, de Vila Real de Santo António ao Alto do Malhão.

2 - Clássica Portimão - Fóia.

3 - Etapa de la Vuelta a Espanha, de Almería ao Alto del Calar Alto.

4 - Corrida de Almodôvar.

5 - Pick & Pay 94.7 em Joanesburgo, África do Sul.

6 - Passeio de Luz de Tavira

7 - Passeio do Fontaínhas.

8 - Casa do Benfica de Portimão

9 - Passeio dos Trepadores da Figueira.

10- Sesimbra - Algarve.

O ano seguinte, 2007, foi um ano glorioso. Estive nos seguintes eventos:

1 - Etapa da Volta ao Algarve.

2 - Ruta de los Alcornocales em Los Barrios, Algeciras.

3 - VI Marcha Ruta de los Castillos, Zafra.

4 - V Marcha Villa de Espartinas, Sevilha.

5 - Clássica Portimão - Fóia

6 - 1ª Etapa da Volta a Portugal, de Fafe à Senhora da Graça.

7 - III Marcha Javier Ramírez Abeja, em Lora del Río.

8 - VII Memorial Ricardo Otxoa, em Málaga.

9 - 5º Gran Prémio de Isla Cristina.

10- Corrida de Almodôvar.

11- Passeio de Beja

12- Passeio do Fontaínhas

13- Bênção dos Ciclistas do Algarve.

14- Encerramento da Época.

15- Sesimbra - Algarve.

16- Passeio do Algoz e Benfica.

Em 2008 comecei a restringir-me mais aos passeios portugueses. Fui operado a duas hérnias inguinais e tive que pôr um travão nas minhas saídas.

1 - Subida ao Monte Veleta, Granada.

2 - Passeio de Messines.

3 - Etapa da Volta ao Algarve.

4 - Passeio de Luz de Tavira.

5 - Terras de Santa Maria, Tavira.

6 - 2ª Marcha Villa de Guillena, Sevilha.

7 - VI Marcha Villa de Espartinas, Sevilha.

8 - Clássica Portimão- Fóia.

9 - III Marcha de Fuentes de Andalucía.

10- X Vuelta Cicloturista de Brenes.

11- X Passeio de Moncarapacho.

12- 7º Passeio do N. Sportinguista de Portimão.

13- 16ª Marcha San Bartolomé, Montehermoso, Cáceres.

14- 2ª Etapa da Volta a Portugal, Viseu-Caramulo-Viseu.

15- Corrida de Almodôvar

16- IV Marcha Javier Ramírez Abeja, Lora del Río.

17- V Marcha Jesús Rosendo, Carmona.

18- VI Gran Prémio de Isla Cristina.

19- Subida a Montescudo, Itália.

20- Passeio do Fontaínhas.

Este ano as coisas correram muito mal, primeiro porque os resquícios das operações às hérnias fizeram-se sentir: dói-me frequentemente um testículo ao pedalar, e uma crónica dor nas costas obrigou-me a estar parado dois meses e a faltar a muitos eventos. Ainda assim estive em:

1 - Benção dos Ciclistas do Algarve.

2 - Terras de Santa Maria, Tavira.

3 - 3ª Marcha Villa de Guillena.

4 - 7º Passeio de Beja

5 - 11ª Marcha Cicloturista de Brenes.

6 - Passeio da Apexa.

7 - VII Marcha Villa de Espartinas, Sevilha.

8 - Rota da Sopa da Pedra, em Almeirim.

9 - 9ª Clássica Portimão- Fóia.

10- Passeio do N. Sportinguista de Portimão.

11- IV Marcha de Fuentes de Andalucía.

12- Gran Prémio de Isla Cristina.

13- XVI Passeio Ciclo Clube de Lagos.

14- Passeio do Fontaínhas.

Falhei a Etapa da Volta ao Algarve, a Etapa da Volta a Portugal, o Sesimbra - Algarve, as Marchas de Lora del Río e de Carmona. Tinha planeado ir a Algeciras e a Almendralejo, e tive que abandonar a ideia. Estava de férias no estrangeiro aquando do encerramento da época.

Será a idade a começar a pesar?

154 - DA IMPORTÂNCIA DOS CLUBES E DOS SEUS DIRIGENTES.

Confesso que já me interessei mais pelo ciclismo profissional que agora. Desde que comprei a primeira bicicleta e que participei num passeio de cicloturismo a minha vida nunca mais foi a mesma.

Do ciclismo profissional tenho vindo a perder o interesse devido, primeiro, à criação do Protour ( reparem por exemplo no caso da Volta à Polónia, considerada exemplar a nível organizativo, e por isso fazendo parte do Protour, e que pela mesma razão nela não podem participar as equipas polacas, por serem todas do escalão continental. Imaginem o que seria a Volta a Portugal sem as equipas portuguesas. ) Depois casos como o da não-participação de Mario Cipollini no Tour, por a sua equipa não ser do escalão principal, do maior ciclista da actualidade ( Alberto Contador ) ter sido impedido de correr a Volta à França, e os constantes casos de doping, inclusivamente no nosso país, com o consequente desaparecimento das principais equipas nacionais. É verdade que continuo a seguir a Volta ao Algarve, sempre dou um salto à Volta ao Alentejo e à Volta a Portugal, mas o interesse já não é o que era.

Do cicloturismo só guardo boas recordações. Tenho feito grandes amizades neste meio, muitas das vezes com gente de outras terras, que só vejo por ocasião de um evento. Tenho grande respeito por todas as pessoas que fazem parte dos clubes, e que vão mantendo acesa a chama do amor pelo ciclismo. É nas actividades de cicloturismo que existe o que de melhor e mais puro há no nosso desporto.

Que me perdoem aqueles que criticam os passeios de cicloturismo e as "almoçaradas" que a seguir se organizam. Todos já sabem que eu gosto das corridas com roda-livre, por elas me desloco a Espanha, ao Ribatejo, à Etapa da Volta no Caramulo ou na Senhora da Graça, mas os passeios não são incompatíveis com as "ciclodesportivas", podemos participar nuns e noutras, e as "almoçaradas" são um óptimo veículo de criação de amizades, onde pessoas com o mesmo interesse pelo ciclismo podem dar largas às suas conversas sobre o tema. Não há bebedeiras, nem gente a comer à "grande" como alguns pretendem fazer crer. Há sim um convívio saudável e muito companheirismo. Na Portimão-Fóia e na corrida de Almodôvar também dão um almoço a seguir, e é bem-vindo, especialmente para quem acabou de fazer um esforço enorme com a bicicleta.

As pessoas nas fotos que ilustram este post são um exemplo de cada um dos clubes do Algarve que participam regularmente nos eventos de cicloturismo ou de ciclodesporto. De Aljezur a Vila Real de Santo António há pessoas que amando o ciclismo, se dispuseram a fazer parte de um clube, por terem percebido que as coisas são mais engraçadas em conjunto do que sós. Treinam conjuntamente, participam regularmente ao longo de todo o ano em eventos por todo o Algarve e não só. Alguns são dirigentes desses mesmos clubes, chamam a si a responsabilidade de organizarem as coisas, quase todos dão a cara pelo passeio anual do clube, sempre pretendendo que corra da melhor maneira e que as pessoas se divirtam.

Seria bom que aqueles que se auto excluem de participar nos clubes entendessem que, só cá dentro é que podemos ter voz, que só fazendo parte dum clube podemos esperar fazer as coisas como gostaríamos que elas fossem. Não podemos exigir que façam por nós, temos que ser nós a fazer e a organizar. E é por isso que eu tiro o chapéu às pessoas, que dentro dos seus clubes se dedicam ao nosso desporto, não se limitando a correr, mas também a trabalhar para fazer os outros felizes.

Os clubes organizam os seus passeios de acordo com o que lhes parece melhor. Se optam por uma vertente mais turística ou familiar é porque acreditam que a maioria dos participantes assim o deseja. Para aqueles que, como eu, gostariam de ter corridas mais disputadas, terão que ser eles próprios a criarem condições para a organização de tais eventos, não podem pensar que sejam os outros a fazer por eles. Inscrevam-se nos clubes existentes ou criem outros novos, tenham cartão federativo ( sem ele nunca poderão participar nas marchas espanholas ), façam parte da Associação de Ciclismo do Algarve, através dos clubes para assim poderem dar o vosso contributo à expansão da modalidade. Serão recebidos de braços abertos por pessoas que, como vós, têm um grande amor pela modalidade.

153 - UNIÃO CICLISTA INTERNACIONAL E CICLISMO PARA TODOS.

O organismo que regula o ciclismo a nível mundial, União Ciclista Internacional, vulgo UCI, tem 7 eventos certificados como os melhores do Mundo, reunidos sob o lema UCI Golden Bike. Alguns cicloturistas com mais posses económicas fazem questão de, ao longo da sua vida, conseguir participar em todas elas, de modo a terem o direito de poder ostentar a tão desejada bicicleta de ouro, um pequeno troféu atribuído a quem fizer prova de haver participado, ao menos uma vez, em cada uma das ditas corridas.

No ano que agora termina as provas foram as seguintes:

Cape Argus Pick n Pay Cycle Tour - África do Sul
De Ronde van Vlaanderen - Volta à Flandres - Bélgica
Gran Fondo Internazionale Felice Gimondi - Itália
Quebrantahuesos - Espanha
Cyclosportive l’Ariégeoise - França
Gruyère Cycling Tour - Suíça
Wattyl Lake Taupo Cylcle Challenge - Nova Zelândia

É curioso notar que a Étape du Tour não faz parte desta lista, apesar da organização exemplar e da massiva participação.

A palavra "cicloturismo" não faz parte do vocabulário da UCI, apesar de em países como a Itália, Espanha ou Portugal se designar com este termo tanto o cicloturismo como os eventos ciclodesportivos. Em vez disso a UCI designa os seus eventos por "ciclismo para todos", como aliás faz também a Federação Portuguesa de Ciclismo.

Existe em Portugal uma Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, vocacionada para os verdadeiros eventos de cicloturismo, actividades de turismo em que se utiliza a bicicleta como meio de locomoção, e onde se incluem os passeios em conjunto. Este organismo não se dedica ao desporto, e como tal não tem qualquer ligação à União Ciclista Internacional. Por isso os seus passeios não têm qualquer componente de competição, e assim deve ser. Por sua vez a Federação Portuguesa de Ciclismo e as suas Associações Regionais, como é o caso da Associação de Ciclismo do Algarve, são organismos debaixo da tutela da UCI, e vocacionados para o ciclismo de competição, incluindo o "ciclismo para todos". É nesse âmbito que se organizam as provas de elites, profissionais ou amadoras, mas também as de cadetes, júniores, sub-23, etc, e onde deveriam caber também, as "ciclodesportivas", tal como na UCI, tal como em Espanha, França, Itália, Grã- Bretanha e na generalidade dos países, mas também no Norte do nosso país.
Vemos todos os domingos nas estradas do Algarve centenas de ciclistas amadores que não se revêem no "cicloturismo" ou no "ciclodesporto" que se pratica a nível organizativo. Treinam afincadamente, saem todos os fins de semana, faça chuva, vento ou frio, sozinhos ou em grupos regulares, para um desporto que não existe na nossa região. Compram bicicletas caríssimas, estão em plena forma atlética, têm extremos cuidados com a alimentação, mas não têm onde competir, por não haver um organismo que acolha o seu desporto. Têm 3o, 40, 50, 60 anos, não podem participar nas corridas de elites, mas não existem "ciclodesportivas" no Algarve para eles. É uma pena, porque são os verdadeiros amantes do ciclismo.

152 - ÁFRICA DO SUL 2011

Quis o destino que as irmãs Fernanda, Olga ( minha esposa) e Gena se casassem com ciclistas. Cada um dos cunhados tem uma vida diferente, uma história diferente, até os sítios onde vivem são completamente diferentes.

O Tino chegou a correr em equipas profissionais, mas um problema de saúde afastou-o dessas lides. É o mais experiente dos três cunhados, sabe muito de ciclismo, tem o melhor material. É o ciclista com o número 909 da 2ª foto, sofrendo a subir o Galibier ao lado de um italiano, e envergando as cores da África do Sul. É o marido da Fernandinha, vive em Neuchatêl, na Suíça.

O equipamento que o Tino enverga naquela foto foi-lhe oferecido pelo João, marido da Gena, que vivem na África do Sul. O João é o ciclista de azul, escalando uma montanha durante a Cape Argus de 1991, uma ciclodesportiva realizada nos arredores da Cidade do Cabo, que com a participação de 35 000 concorrentes é a maior corrida do Mundo, e faz parte da Goden Bike, uma selecção das melhores ciclodesportivas do Mundo, para a União Ciclista Internacional.

Na 3ª foto podemos ver o João, acabadinho de levantar a documentação para a Argus deste ano, que se realizava no dia seguinte. O João vive em East London, a muitos, muitos, quilómetros de Cape Town,mas não perde uma edição da Argus. Mete-se no avião, como milhares de outros ciclistas da África do Sul e tantos outros países, para poder estar entre os 35 000 participantes.

Quem também tem que voar para poder correr na Argus é o Necas, na mesma foto a confirmar a sua inscrição. Voa de Joanesburgo, a mais de mil quilómetros do Cabo, para se juntar ao João nesta aventura de todos os anos. É amigo de infância do Tino, correram juntos no Sporting de Lourenço Marques, andou no liceu com a Gena, conhece o João desde os tempos da juventude. É outro amante do ciclismo, e como tal faz parte desta família. Acolheu-me em sua casa para eu poder tomar parte na Pick & Pay 94.7 de Joanesburgo, a 2ª maior corrida do Mundo, logo a seguir à Argus. Em Setembro juntar-se-á aoTino e a mim em Lora del Río para participarmos os três na Javier Ramírez Abeja.

Na última foto vemos uma coisa muito peculiar. Sabem o que são as caixas por trás do Necas? Exactamente, são bicicletas, que os participantes despacham no avião. De outro modo não poderia ser, com tantos participantes não seria possível alugar uma. Também levei a minha no avião quando participei na corrida de Joanesburgo. E como vêem a organização não descura nenhum pormenor. Estão acondicionadas e guardadas, é chegar e ir levantá-las, não há qualquer problema.

Esta conversa toda para vos dizer que o João já anda a espicaçar-me para me convencer a ir a África outra vez. Desta feita ao Cabo. Imaginem: avião para Joanesburgo, uns dias em casa do Necas. Avião para o Cabo com o Necas. Participar na corrida, avião para East London com o João. E sabe-se lá mais o quê...Eu vou, prometo que vou, tenho recordações maravilhosas da outra vez.

Mas antes, não se esqueçam do Tino, antes a meta é França, Stage du Soleil, uma semana a conviver e aprender num Campus de ciclismo, com o Tino et ses compagnons. Tenho que perder 7 ou 8 quilos até lá, se quero estar em forma em Março. Está quase Tino!