No ano passado fiz este mesmo percurso em quase metade do tempo.
Eu sei muito bem que não sei correr, e que muito dificilmente irei aprender qualquer coisa com esta idade. Sempre gostei muito disto mas comprei a primeira bicicleta aos 47 anos. Bem me ensinam que devo meter mudanças mais leves para ir mais rápido, com cadência, que devo gerir o esforço para não rebentar, mas interiorizar isso no calor da corrida é bem mais difícil. Também sei que tenho que correr mais depressa nos treinos para aguentar depois nas corridas, mas é fácil deixarmo-nos embalar por um ritmo mais suave quando treinamos sozinhos.
O único ponto a meu favor é uma vontade inabalável, nunca atirar a toalha ao chão seja em que circuntância for e, apesar dos fracassos, não deixar nunca de estar presente. Afinal de contas isto tem que ser uma diversão, e só nessa perspectiva é que pode fazer sentido para uma pessoa como eu. É claro que nos sentimos todos um pouco Lance Armstrong de trazer por casa, frustrados é evidente, por não termos podido nunca ter sido ciclistas a sério. Mas como diz aquele moço ao meu lado na foto acima, o Álvaro de Herrera, isso é um privilégio de muito poucos, é uma dádiva da Natureza, somos o que somos, e não o que gostaríamos de ser. Podemos tentar, podemos lutar por isso, podemos às vezes sentir a emoção de estar numa corrida com profissionais, de ter um público a aplaudir-nos, de cortar uma meta, mas ser como os profissionais só a brincar. E é mesmo assim que deve ser, é para isso mesmo que estas marchas são organizadas. Se bem que o cicloturismo esteja de moda na Espanha, e com a criação deste Circuito de Sevilha tendam a desaparecer os mais fracos ( quase já não há mulheres, idosos ou jovens), e este facto tem dado origem a pelotões cada vez mais selectivos, e onde cada vez mais é difícil de correr.
Um desarranjo intestinal, motivado pela ingestão de suplementos energéticos, levou-me à cauda do pelotão por motivos óbvios. Quando foi levantada a bandeira para dar início à roda-livre já estava em último lugar. Acresce que uma queda dum amigo algum tempo antes, me tinha feito ficar com ele durante muito tempo, e posteriormente ajudado a recolocá-lo no pelotão, o que me levou a desperdiçar muita energia, que me viria a fazer falta nos momentos cruciais.
Lutar para sair dos últimos lugares foi um esforço inglório: se bem que início até parecia fácil, ia passando uns atrás doutros, vi-me de repente à frente dum mini-pelotão. Ora isto era precisamente o que eu não queria, já tinha concluído que não é bom estar a puxar pelos outros. E se tentava que outro me passasse, eles arranjavam as coisas para eu logo ficar outra vez na frente. Ou são muito macacos ou eu sou muito ingénuo, pois logo voltava a cair na esparrela. Até que rebentei, e foi vê-los ir embora e eu sem força para ir com eles. E depois foi ver passar por mim todos aqueles que eu tinha anteriormente ultrapassado. Um a um, paulatinamente, foram passando por mim, e eu nem tinha força para ir na roda deles.
No final, quase último, e com uma média de quase metade da do ano anterior, num percurso igual. A constatação que não basta o meu querer, a minha vontade, os treinos diários. É preciso inteligência, perspicácia, e sobretudo muita experiência, tudo coisas que a mim me faltam. Quem me ajuda?