segunda-feira, 5 de julho de 2010

183 - DE VITÓRIA EM VITÓRIA ATÉ À DERROTA FINAL.




São muito diferentes as corridas de ciclismo e aquelas de cicloturismo em que costumo participar em Espanha.
No cicloturismo, em que normalmente só uma pequena parte do percurso é que é efectuada em sistema de roda-livre, não há estratégias de equipas, é tudo ao molho e fé em Deus. No ciclismo, um sprinter não se interessa pelas etapas de montanha, nem um escalador se faz a um sprint.
No cicloturismo pretendemos sempre fazer o melhor possível, acabe a roda-livre numa recta ou numa subida. Se pudermos ficar no lugar 170 não queremos ficar no 171. Para os ciclistas profissionais ou elite, é-lhes igual em que lugar ficam, se não puderem disputar um dos lugares do pódio.
Acresce a estes factos, que num pelotão de cicloturistas que disputam um pequeno percurso de roda-livre, se misturam todas as categorias possíveis, desde júniores até aos master de 7o anos, pelo que, mesmo chegando entre os últimos, se pode estar a disputar o 1º lugar da nossa categoria etária, sendo que cada lugar na classificação é importante, e isto conduz a verdadeiras batalhas entre grupos menores.
No ciclismo profissional, se há uma fuga, o pelotão organiza-se para a anular, com as equipas interessadas na anulação da fuga a trabalharem nesse sentido. As equipas que não estão nessa luta optam por descansar, indo relaxadamente na roda das que trabalham, se tal lhes for possível.
No cicloturismo é cada um por si, a equipa não significa nada, pode mesmo acontecer que numa única equipa hajam candidatos a vencerem em categorias etárias diversas.
Veio-me à memória um episódio passado numa das primeiras vezes que ousei correr numa cicloturista espanhola.
Tinha ido à Etapa de la Vuelta ao Calar Alto, tinha aguentado, pensei que podia experimentar outra vez. Como a esposa e o filho estavam de férias, consegui organizar as coisa para irmos 3 dias, aproveitando para revisitar El Puerto de Santa María, que adoramos, e aí ficar num hotel, e participar na Ruta Cicloturista Los Alcornocales - Clásica Montera del Torero, na região de Algeciras.
A minha experiência era nula, mas a minha vontade era incomensurável.
Às tantas vi-me num grupo de 14 ou 15 corredores, e por falta de sabedoria, e sentindo-me forte, logo me coloquei à frente deles, aproveitando os outros naturalmente o meu esforço, seguindo na minha roda.
De repente salta um jovem, procurando distanciar-se. Nem pensar!! Julguei cá para mim...
Saltei atrás dele e só descansei quando ele abdicou da fuga.Vitória! Senti cá dentro!!!
E eis que salta outro!!! E eu a dar-lhe caça logo a seguir. Mais uma vitória!!!
E assim por vários quilómetros.
Ninguém tinha autorização para sair daquele mini-pelotão, que eu não deixava...
Sentia-me o herói do dia, o Lance Armstrong do Montechoro...felicíssimo com a tareia que lhes estava a dar...Cada passo era uma pequena vitória!!!
E de repente, assim como se eu nem existisse, foram-se todos embora, ignorando-me completamente...Mantendo o pedalar constante com que sempre vieram continuaram estrada fora, e eu, esgotado pelas investidas palermas, e pelo puxar constante, fiquei vazio, sem força sequer para seguir na roda deles...aprendendo uma lição para o resto da vida.
Dizia o Che Guevara:"de derrota em derrota até à vitória final". Para mim foi de "vitória em vitória até à derrota final", pelo menos contra aqueles que formaram aquele pequeno pelotão.

2 comentários:

  1. Quem me dera pedalar minha bike aí na Europa! Por enquanto, difícil, mas um dia... quem sabe. Gostei do blog. Abraço.

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  2. Caro Amigo Santos, quando se vai correr a Espanha, para mim, a máxima é: enquanto houver um espanhol vivo, não há português que puxe!
    :-)
    Grande e saudoso abraço, companheiro!

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