Bati no fundo. Completamente!
Talvez já não faça mais sentido insistir em continuar com estas aventuras.
Subo as escadas para o 2º andar onde vivo, e chego lá acima cansado. E quando tenho que carregar a bicicleta até casa, então não se fala...
Eu sei que tenho mais uns anos encima, mas, "que diabo", há gente bem mais velha a deixar-me ficar para trás...
O ano tem sido duro. Por vários motivos. Mas eu sei que nunca mais fui o mesmo depois da operação às hérnias, e sobretudo quando parei de fumar, e engordei quase 15 quilos. E estive quase um mês parado com as dores nas costas.
Consegui, ao longo da época, perder peso substancialmente, mas nunca mais voltei ao que era.
No trabalho a situação agudizou-se desde que se começou a falar de crise económica. Aproveitando falar-se tanto disso, a firma reduziu o pessoal, tornando a nossa tarefa quase épica. Nem os escravos que construíram as pirâmides do Egipto terão sido submetidos a tamanhas esforços. Pelo menos tinham que ser alimentados, para poderem continuar a trabalhar. Nós não, nem tempo temos para comer. Somos menos do que o trabalho que temos que cumprir...
Agora generalizou-se a prática de colocarem a trabalhar nas cozinhas, pessoas oriundas do Brasil e da Ucrânia, sem qualquer experiência profissional, mandados pelas empresas de trabalho temporário, para operarem um dia ou dois, ou mesmo só algumas horas, para colmatarem a falta de pessoal especializado. Mandam-me pessoas que, em vez de me ajudarem, só tornam a minha tarefa cada vez mais dura, pois tenho que os ensinar minimamente, e logo de seguida desaparecem, e no dia seguinte lá tenho outro, que não sabe absolutamente nada de cozinha, e tenho mais uma vez de começar de novo. Para não falar nos dias, em que nem sequer tenho gente para trabalhar, tendo que fazer tudo sozinho, como se de um contra-relógio se tratasse. E dos dias em que seria suposto ter folga, ter um dia para descansar, aliviar o tremendo stress em que vivo, e, qual folga, qual quê, tenho que ir trabalhar, porque a minha empresa não se preocupa com quem dá tudo por ela, até à exaustão, e não cuida por termos o descanso que tanto necessitamos.
Com isto, quando tenho uma folga, estou tão cansado, que não tenho vontade de me levantar cedo, e ir treinar.
Depois, estas noites de Verão, com tanto calor, só dá para dormir com a janela aberta. E lá fora, toda a noite, há um cão a ganir numa varanda. Faz-me impressão como é que os donos, e quem mora mesmo ao lado conseguem dormir. Às 3 da manhã tenho que aceitar que não vou uma vez mais conseguir dormir, e lá tenho que me socorrer de um soporífero, para poder descansar umas horas. Naturalmente que, quando toca o despertador, estou estafado, e muitas vezes acabo por optar em não ir de bicicleta para o trabalho, para poder ficar mais uns minutos na cama, e assim lá se vai mais uma oportunidade de treinar.
Assim, nestas circunstâncias me encontrava, aquando da eventualidade de participar na Marcha de Brenes. Não estava em condições mínimas para ir, mas o pessoal dos Tokarolar de Almodôvar tinha-se inscrito, depois de me haverem sondado nesse sentido, eu já tinha feito saber entre os espanhóis, que desta vez viria uma boa equipa do meu país, e sentia uma certa obrigação de estar presente.
Acordei às 4 da manhã, depois de haver trabalhado um longo dia até ao desespero, e de me ter deitado já passava da meia-noite. Com um comprimido para dormir, obviamente.
Seguiram-se 3 horas de condução até Brenes, para lá de Sevilha. Pequeno-almoço a correr e saltar para a bicicleta e tentar acompanhar os outros. E depois admiro-me que antigamente conseguia chegar bem lá para a frente, e agora a minha luta é para não ser o último...
Consulto as classificações de Marchas passadas, e verifico como ficava bem à frente de gente, que entretanto conheço. Era fácil, era natural, não sentia dificuldade especial em chegar bem no meio do pelotão. Agora é um esforço tremendo, um sofrimento atróz para não ficar em último. E pergunto-me se ainda fará algum sentido em insistir em ir lá.
Eu sei que provavelmente isto acontece por falta de treinos. Se assim for, e se puder nas semanas que se aproximam, treinar minimamente, e nas marchas que me faltam esta época ( Lora del Río, Carmona, Jérez de la Frontera, Écija e Isla Cristina ) conseguir uma melhor prestação, então ainda não atiro a toalha ao chão. Mas talvez vá sendo oportuno começar a pensar nos passeiozinhos que por cá se fazem...
Em Brenes esteve um bom contingente português, do clube de Almodôvar e da Aldeia de Fernandes. Acredito que ficaram maravilhados com a maneira como se corre nas cicloturistas espanholas. Os espanhóis ficaram encantados com a presença deles, e até os entrevistaram para um vídeo para uma televisão regional. Só que, adivinhem quem é que eles puseram a fazer a entrevista? A mim, pois então! É claro que me senti nada à vontade nesse papel, esquecia de apontar o microfone para o interlocutor, e enquanto ele respondia, já tinha que estar a magicar que pergunta iria fazer de seguida. Em castelhano, "por supuesto"...Sem sequer haver necessidade, já que com eles trouxeram o Presidente da Junta de Freguesia, que fala um espanhol irrepreensível, muito melhor do que eu.