Já viram alguma vez o Cavendish ganhar na montanha? Não. Pois não? E o Hushovd? O Greipel e o Cancellara?
Já viram alguma vez o Andy Schleck ganhar um Sprint? Também não. Não é? O Contador também não, nem o Armstrong. Cada um é como é, não há volta a dar-lhe.
Salvaguardando as devidas distâncias (isto é só uma brincadeira, um entretenimento), não nasci para escalador. Sempre que o terreno empina fico logo para trás. É vê-los a passarem por mim...
Até já me parece que estou a ficar traumatizado com isto. Parece que fico sem força, ou sem motivação, para atacar as subidas, porque sei que me vai ser muito difícil. O curioso é que quando treino não sinto nenhuma dificuldade especial em subir. Faço regularmente o Malhão e a Fóia, subi várias vezes a Serra da Estrela, O Caramulo, a Senhora da Graça. Já estive no Calar Alto, no Veleta, em Andorra, e não me pareceu que tivesse sofrido por aí além...
Se calhar é porque, no calor da luta, tento fazer mais do que me é possível, aumentar para um ritmo que não é o meu, esgoto-me, e depois não tenho energia de reserva, que seria suposto ter.
É verdade que o meu actual estado físico também não ajuda. Estou demasiado gordo, tenho barriga, devia ter mais treinos.
Mas assim que a estrada endireita recupero o que perdi na subida. Então dá-me um gozo especial ultrapassar aqueles que ainda há pouco tinham passado por mim. Mas fico sempre atónito ao verificar, que eles, que tão facilmente me ultrapassaram a subir, lhes falta agora a força para seguirem na minha roda. O que fará para que as coisas sejam assim? Que explicação haverá para isto?
Ainda ontem, na VI Marcha Javier Ramírez Abeja, em Lora del Río, passada que foi a montanha da Sierra Norte, com a estrada molhada pela chuva, que surpreendentemente caiu, num dia com céu limpo, muito calor, e uma única nuvenzinha, que até nem era nem escura, nem pesada, mas que teimosamente nos perseguiu até ao final do troço de roda livre, em Las Navas de la Concepción, descendo curvas perigossímas, muito técnicas, eu, que até sou um medricas, e muito mau técnicamente, passava por eles com a maior das facilidades, especialmente se me agaixava sobre a bicicleta. Será pelo peso?
Deviam, de vez em quando, pôr o final de um troço de competição, num local a direito. Nestas coisas das corridas para amadores, põem sempre a meta num sítio a subir. Só os Contadores e os Schlecks amadores é que têm direito a ficar bem classificados...Não é que eu tenha esperança de ficar bem classificado, mas se calhar ficava com a moral bem mais elevada.
A Marcha de ontem, na qual participei, em detrimento do tão esperado Inter-Concelhos, do Centro de Ciclismo de Portimão, por considerar que era obrigação minha, depois da visita que o presidente da Peña Ciclista de Lora del Río, Manuel Cascales Jiménez, e a sua esposa Elena, efectuaram aquando do Portimão-Fóia, e posteriormente ao Passeio da Juventude Desportiva das Fontaínhas, foi boicotada pela generalidade dos clubes que usam participar no Circuito de Sevilha.
Quando, no ano passado, se resolveu juntar 7 marchas, que se organizavam a título individual, e cada uma, com as suas próprias características, num Circuito único, as Marchas de Lora e Carmona ficaram a perder. Estavam uns furos acima das outras em termos de organização, eram mais atractivas pela oferta de recordações valiosas aos participantes, e pela qualidade dos abastecimentos, provavelmente pelo grande empenho posto pelos dirigentes dos clubes organizadores em encontrarem patrocinadores em grande número, mas também pelo grande envolvimento da comunidade, desde os motards até ao sem-número de voluntários que contribuíam para um desenrolar perfeito do evento.
Assim sendo, e verificando que, integrados no Circuito, perdiam as suas características originais, e muito especialmente a qualidade a que já tinham habituado os seus participantes, Carmona e Lora decidiram este ano voltar ao modelo original, e deixar de fazer parte do Circuito. Estão no seu direito e ninguém lhes pode pode levar a mal por isso. Desta feita, por exemplo, deram um jersey comemorativo, um bidão, um par de meias e uma capa para o telemóvel alusiva à Marcha.
Os ciclistas dos dois clubes, inclusivamente os seus dirigentes, sempre tomaram parte nas corridas do Circuito deste ano. Mas lamentavelmente os clubes do Circuito decidiram boicotar a Marcha de Lora. E deverão ter exercido pressão junto dos outros clubes, que não fazendo parte do Circuito, costumam participar nas suas corridas. Não se viam ontem em Lora as camisolas que são usuais pela província de Sevilha, à excepção de alguns contra-corrente, gente independente e com opinião própria, que à revelia das decisões dos seus dirigentes, decidiram ontem participar com as cores do clube, arriscando assim a sua expulsão, ou outros, que mais comedidos, se apresentaram em Lora com equipamentos neutros. Relevante foi a participação orgulhosa dos portadores das camisolas de campeão do ano passado, que assim não exibiam as suas cores, mas mostravam que estavam presentes.
Assim se dá início às cisões entre as pessoas. Parece-me um pouco aquela coisa de Portugal, com os clubes da FPCUB e da ACA, e que não interessam nem um pouco aos ciclistas. A maioria dos praticantes de ciclismo do Algarve é sócio das 2 associações, para poderem tomar parte nos eventos de ambas. Não nos interessa a política, o que nos faz correr é a bicicleta. Parece-me que esta decisão dos organizadores do Circuito irá marcar para sempre a unidade dos ciclistas de Sevilha. É uma decisão política, à margem dos interesses do Ciclismo. Não é boa, nem saudável, nem desportiva. Não beneficia ninguém, só pode prejudicar. Adelante!!!...
Não se pense que a Marcha de Lora se deixou afectar pelo boicote. Pelo contrário. Se não se viam camisolas de Sevilha, viam-se as da província de Córdoba e até de Granada. Ciclistas não faltaram, cerca de 160 ou 170. Imagine-se se não houvera boicote.
Levantei-me às 3 e meia da manhã para estar em Lora às 7. A hora de diferença entre Portugal e Espanha obriga-me a isto. No dia anterior trabalhei até às 10 da noite, deitei-me já depois das 11. Depois tive que conduzir por mais de 300 quilómetros. Isto também não deve ser muito bom para a minha prestação desportiva, não é? O que me vale são as barritas energéticas e as bananas que levo na bolsa. E cubos de marmelada.
Cheguei estava o dia a nascer. Já se viam pessoas a fazer jogging nos jardins de Lora. Cheirava a ciclismo no local da concentração. Elena e Manuel Cascales tinham um presente para mim, um Pastel de San Francisco de Córdoba enorme. Gracias compañeros, quanto não valem muito mais estas atitudes, que aquelas do boicote...?
Surpresa ao fazer a inscrição: já não é necessária a autorização da Federação Portuguesa de Ciclismo para participar nas Cicloturistas espanholas. O juíz-árbitro que presidia à Marcha remeteu-me para o site da Real Federación Española de Ciclismo, para tomar conhecimento do Convénio estabelecido entre os dois países, a fim de agilizar o intercâmbio de ciclistas entre os dois países, e assinado por Artur Lopes, presidente da FPC. O mesmo Artur Lopes que assinou a minha autorização para esta corrida e que, ao que parece, deve desconhecer o Convénio...
O facto de esta Marcha estar à parte do Circuito de Sevilha, fez-me voltar à condição do "Antes do Circuito" e perceber o que tem corrido mal ultimamente. Desta vez corri numa Marcha normal, com gente normal. Tive uma participação normal, e um resultado normal, mesmo sem ter forçado muito, que não estou em forma, longe disso. Mas saber que atrás de mim ainda há muita gente, que não sinto o carro-vassoura ou a ambulância nas minhas costas é muito bom.
Percebi, já suspeitava, que nas Marchas do Circuito, por haver uma competição constante, se fechou a corrida aos menos aptos, e que cada um tem que estar a tope para poder sobreviver. São gente do triatlo, ex-profissionais, élites e sub-23, que à margem das classificações, usam estas corridas para treinarem. O que obviamente torna as coisas muito mais difíceis para aqueles, como eu, que vão para estas coisas com o intuito de fazer ciclismo a sério, mas sempre numa perspectiva de amador e de entretenimento.
Cheguei integrado no pelotão principal e nem sequer tive que sofrer para fazer uma corrida "mais ou menos".
A corrida foi bem dura, com muita subida, em paisagens belíssimas da serra. Recordo-me especialmente de um momento, em que após descer rampas onde se anunciava"CURVAS PELIGROSAS", com desníveis de mais de 14 ou 15 %, deparo com uma imagem insólita. Um rio, uma ilha no meio do rio, e uma mansão enorme a ocupar toda a extensão da ilha. Nas margens gente à pesca, desfrutando o Domingo num ambiente bucólico. Lindo...
Menos bonito era o cheiro a porco, que dominava toda a extensão da Sierra Norte. Mas pronto, a gente compreende, as coisas são mesmo assim, é aquilo que se produz naquela zona, os celebérrimos "cerdos ibéricos", que depois nos dão o delicioso "Pata Negra" e outras delícias. Mas, caramba, ter que subir a serra, ter que abrir a boca para recolher o máximo possível de ar, e ...levar com o cheiro a merda de porco...É insuportável, a boca sabe a merda de porco, os dentes sabem a merda de porco, acho que até nos pulmões sentia o odor da merda do "ibérico".
Voltei a ver um "avituallamiento", um abastecimento, como mandam as regras: pãezinhos com queijo ou carnes frias, bolos secos variados, maçãs e bananas descascadas e porcionadas, gomas, frutos secos variados, chocolate negro em pedaços, água fresca, bebidas energéticas, Fanta e Coca-Cola. Pensar que em algumas Cicloturistas no nosso país já vi cerveja...mas estamos a brincar, ou a gozar com isto? E não querem servir uns bagaços para os mais estúpidos...? Eu adoro cerveja, mas cada macaco em seu galho.
Manuel Cascalez Jiménez, bom amigo, obrigado por seres meu amigo e amigo de Portugal. Espero ver-te no Passeio da Juventude Desportiva das Fontaínhas. No próximo ano, haja o que houver, voltarei a estar convosco na vossa maravilhosa Marcha.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
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