sexta-feira, 23 de julho de 2010

186 - REUNIÃO DA JUVENTUDE DESPORTIVA DAS FONTAÍNHAS.


Quarta-feira, dia 28 de Julho, pelas 21 horas, realizamos uma reunião da secção de cicloturismo da Juventude Desportiva das Fontaínhas.
Fundamentalmente tratar-se-á de falarmos sobre a organização do nosso passeio anual, que deverá realizar-se a 14 de Novembro. Mas é bem provável que possamos debater a actual situação da nossa secção, tão abalada que está, neste ano de crise.
Saúdo o regresso do João Espada, que se disponibilizou para voltar a organizar o nosso passeio, que eu sentia poder não voltar a ser viabilizado, dado o marasmo em que o cicloturismo da JDF caiu após o seu afastamento. Espero sinceramente que o João já tenha esquecido as agruras por que passou, e volte definitivamente à liderança da nossa secção, porque sentimos muito a sua falta. As coisas nunca mais foram as mesmas desde que ele saiu. Seria uma pena para o cicloturismo de Albufeira se o nosso clube deixar de funcionar.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

185 - ESTÁ UM MORTO NOS CONTENTORES DO LIXO DE LOULÉ E DE SILVES.

Como sou de Albufeira, cada dia que saio a treinar, tenho inevitavelmente que atravessar os concelhos vizinhos do meu, Loulé e Silves. Costumo escolher as estradas com tráfego mais reduzido do interior daqueles concelhos, para chegar a Monchique ou ao Barranco do Velho, por exemplo.

Assim que saio dos limites de Albufeira, e entro nos caminhos rurais, ou menos povoados, de Silves e Loulé, tenho a sensação que a morte e a putrefacção enchem o ar, que supostamente, naquelas paragens, deveria ser puro e agradável, de um odor terrível, vindo dos contentores do lixo ao sol, que provavelmente não são esvaziados todos os dias, nem submetidos a qualquer limpeza ou desinfecção.

Naturalmente que o mesmo não se passa nas grandes urbes, onde há um cuidado maior nesse sentido. Mas a verdade é que, no concelho onde habito, não se passam os mesmos problemas de Silves e Loulé. Em Albufeira, mesmo nos lugares mais retirados, os contentores são imaculadamente desinfectados. E assim deveria ser em qualquer lugar.
A ASAE, tão meticulosa com a defesa da saúde pública, quando se trata de restaurantes e estabelecimentos comerciais, nõ pode multar as autarquias?

No outro dia decidi-me por rolar até à freguesia de Moncarapacho, para subir o Cerro de São Miguel. É vergonhoso o que se passa com o lixo nas imediações daquele lugar. Contentores a abarrotar, a reciclagem ao abandono, porcaria em grandes quantidades espalhada à volta dos contentores. Numa freguesia onde passam milhares de estrangeiros a passear, ou que por ali habitam. Tudo limpinho na sede da freguesia, mas na estrada para São Brás de Alportel, ou para Santa Catarina da Fonte do Bispo é um nojo...
Quando tenho que deitar fora alguma garrafa de àgua vazia, e utilizar um contentor nesses sítios, parece-me que há um morto dentro dos contentores do lixo...Vêm-me à memória imagens e cheiros de Marrocos, que me deixaram sem vontade de voltar àquele país...

Ah, e já agora, a talho de foice, para não deixar passar a oportunidade: ao longo da estrada, costumo ver restos de barritas energéticas, garrafas vazias de Isostar, Gatorade, embalagens usadas de gel energético, obviamente coisas que foram deitadas para a berma da estrada por ciclistas a treinar. Então nós, que até temos um orgulho tão grande em usarmos um meio de transporte ecológico, que não poluímos o ar com as nossas bicicletas, deitamos lixo para o chão, quando a espaços regulares haverá sempre um contentor à nossa espera? Não custa nada transportar por dois minutos a garrafa vazia e deitá-la fora no lugar apropriado. Ou têm repulsa pelo morto que está dentro dos contentores de Loulé e de Silves...?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

184 - COM PELE DE GALINHA EM FUENTES DE ANDALUCÍA.




Três e meia da manhã. Toca o despertador para mais uma jornada de aventura por terras da Andaluzia. Se bem que me tivesse deitado já passando das onze, e tomado um comprimido para dormir, já estava acordado quando o despertador apitou. Talvez fosse da excitação, mas já estou habituado a estas andanças, não deve ter sido por isso. Penso que a causa está mais no facto de ser cozinheiro e de trabalhar aos sábados, portanto na véspera das corridas. O ter que trabalhar até tarde, o ter que me decidir se vou logo a seguir ao trabalho e dormir umas horas numas bombas de gasolina, ou se será melhor dormir umas horas em casa (à custa de um comprimido, claro, que em situações normais do dia-a-dia eu já tenho grandes dificuldades em adormecer), acordar bem cedo, fazer 3oo e tal quilómetros com sono, e chegar lá, montar-me na bicicleta e disputar uma corrida...
Mas pronto, lá fui. Ao chegar é sempre a mesma coisa, sou saudado efusivamente por quase toda a gente. Todos me conhecem, se bem que eu não os consiga conhecer a todos. Há uns que posso considerar bons amigos, afinal de contas até vieram já correr a Portugal, conhecemos-nos há anos, outros também os conheço mas não tenho com eles uma relação tão próxima, outros ainda parecem conhecer-me muito bem, cumprimentam-me amigavelmente, falam comigo, mas nem sei quem eles são, provavelmente já terei falado com eles alguma vez e não me recordo, por vezes acontece que sei quem são se estiverem vestidos de ciclista, mas se estão "à civil" não dá para os reconhecer. Principalmente o facto de terem ou não o capacete, faz uma grande diferença. Há também aqueles que me conhecem por este blogue, principalmente aqui em Portugal, me interpelam, e que eu nem imaginava que seguiam as minhas estórias.
Mal cheguei fui chamado para ser entrevistado. Não é a primeira vez que tenho que falar para uma câmara de televisão, mas há sempre um nervoso miudinho, que senti ao ver como o microfone me tremia na mão. Falar para uma câmara numa língua que não é a nossa..."e se perguntam qualquer coisa e eu não percebo?"...Bom, lá me desenrasquei, penso que até nem correu mal. Ficaram de ter um vídeo com o programa, da próxima vez que eu lá voltar.
A corrida foi anormalmente monótona. O ritmo foi sempre muito baixo, com excepção, claro, do troço de roda-livre, onde tive uma péssima prestação, o que aliás tem vindo a tornar-se um hábito, de há algum tempo para cá. Desta vez não havia táctica que desse certo, não era capaz de seguir na roda de ninguém, simplesmente não tinha força para aguentar os andamentos dos outros. Sei que eles treinam especificamente para cada corrida, fazem séries a subir "repechos" ou a escalar montanhas, treinam sprints e a cadência, e eu não posso, pela minha vida profissional, treinar como eles. Mas dantes isso não era um "handicap" para mim. Nunca fui dos melhores, bem pelo contrário, mas não tinha que lutar por não ser o último. Agora, talvez por não treinar como devia, não estou nunca em forma, em terreno plano até me desenrasco, mas assim que aparece uma subidinha é vê-los passarem-me sem qualquer dificuldade. E o problema é que me parece que tenho melhores prestações a treinar que na competição. Talvez por não saber dosear o meu esforço, e rebentar antes do tempo. Talvez por nunca ter sabido treinar convenientemente a cadência, e gastar energias desnecessárias com andamentos demasiado pesados. Não sei, mas o facto é que já não consigo ter as mesmas prestações, como há dois anos atrás.
Ao olhar para as classificações de outras corridas, é-me fácil verificar que antigamente podia bater rivais que hoje me deixam para trás. Será pelos quilos que ainda tenho a mais? Ou porque já não treino tanto como antes? Ou porque, com a criação do Circuito, eles andam todos a treinar muito mais que antigamente?
Uma vez mais, esta corrida de Fuentes de Andalucía efectuou-se debaixo de um calor infernal. Rezam as crónicas que no ano passado se correu com 43 graus. Este ano se não foi assim, foi lá perto...
Também uma vez mais corremos na auto-estrada. Depois de Joanesburgo, na Pick& Pay, este é o único lugar onde corri na auto-estrada (se não contar com a travessia da ponte na fronteira de Castro Marim, por ocasião do passeio do Campesino Clube).
Mas o que faz o título de hoje é uma outra estória. Uma estória de amizade que me fez ficar com pele de galinha. Ver uma sala inteira, numa pequena localidade do interior profundo de Espanha, toda a gente em pé a baterem palmas, palmas para mim, é algo que não seria nunca possível de descrever por palavras.
Quiseram os de Espartinas, em concluio com a organização, prestar-me uma homenagem pela minha constante participação nas suas corridas, e pela amizade que foi crescendo ao longo destes anos. E Don Manuel Carrasco, campeão da corrida, oferecer-me o troféu que ganhou com o seu suor. E fizeram-me subir ao palco, com toda a gente em pé a aplaudir, para uma das maiores demonstrações de amizade que alguma vez senti.
Outras vezes na minha vida os meus amigos me homenagearam. Os colegas de trabalho do hotel Riu, por exemplo. Ofereceram-me uma placa que guardo orgulhosamente entre os meus troféus dos concursos de cozinha. Ou a Juventude Desportiva das Fontaínhas, por tantas vezes exibir as suas cores nas corridas no estrangeiro. Mas há coisas que nos tocam fundo na alma. Como o estandarte oferecido pelo Núcleo Sportinguista de Portimão, só pela amizade. E esta grande manifestação de carinho de gente de outro país, que provam que a amizade e o companheirismo não têm fronteiras, que as fronteiras são só umas linhas imaginárias que não podem separar as pessoas, os corações , a solidariedade ou a amizade. A Don Manuel Carrasco, a Juan Leal, a Alejandro Barbosa, a Pepe Camino, a Cristina, a todos de Espartinas, mas também a Manuel Cascales de Lora, a Juan de Huelva, a Álvaro Prieto de El Rúbio, a Chiqui de Fuentes, e todos, de Sevilha, de Zafra, de Málaga, de Montehermoso, de Los Barrios, que me acolheram como se fora um deles, e sempre me trataram com o coração aberto, aqui deixo o meu sincero obrigado. E no mesmo dia que Espanha foi campeã mundial de futebol só lhes posso dizer:"enhorabuena". GRACIAS, ESPAÑA!!!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

183 - DE VITÓRIA EM VITÓRIA ATÉ À DERROTA FINAL.




São muito diferentes as corridas de ciclismo e aquelas de cicloturismo em que costumo participar em Espanha.
No cicloturismo, em que normalmente só uma pequena parte do percurso é que é efectuada em sistema de roda-livre, não há estratégias de equipas, é tudo ao molho e fé em Deus. No ciclismo, um sprinter não se interessa pelas etapas de montanha, nem um escalador se faz a um sprint.
No cicloturismo pretendemos sempre fazer o melhor possível, acabe a roda-livre numa recta ou numa subida. Se pudermos ficar no lugar 170 não queremos ficar no 171. Para os ciclistas profissionais ou elite, é-lhes igual em que lugar ficam, se não puderem disputar um dos lugares do pódio.
Acresce a estes factos, que num pelotão de cicloturistas que disputam um pequeno percurso de roda-livre, se misturam todas as categorias possíveis, desde júniores até aos master de 7o anos, pelo que, mesmo chegando entre os últimos, se pode estar a disputar o 1º lugar da nossa categoria etária, sendo que cada lugar na classificação é importante, e isto conduz a verdadeiras batalhas entre grupos menores.
No ciclismo profissional, se há uma fuga, o pelotão organiza-se para a anular, com as equipas interessadas na anulação da fuga a trabalharem nesse sentido. As equipas que não estão nessa luta optam por descansar, indo relaxadamente na roda das que trabalham, se tal lhes for possível.
No cicloturismo é cada um por si, a equipa não significa nada, pode mesmo acontecer que numa única equipa hajam candidatos a vencerem em categorias etárias diversas.
Veio-me à memória um episódio passado numa das primeiras vezes que ousei correr numa cicloturista espanhola.
Tinha ido à Etapa de la Vuelta ao Calar Alto, tinha aguentado, pensei que podia experimentar outra vez. Como a esposa e o filho estavam de férias, consegui organizar as coisa para irmos 3 dias, aproveitando para revisitar El Puerto de Santa María, que adoramos, e aí ficar num hotel, e participar na Ruta Cicloturista Los Alcornocales - Clásica Montera del Torero, na região de Algeciras.
A minha experiência era nula, mas a minha vontade era incomensurável.
Às tantas vi-me num grupo de 14 ou 15 corredores, e por falta de sabedoria, e sentindo-me forte, logo me coloquei à frente deles, aproveitando os outros naturalmente o meu esforço, seguindo na minha roda.
De repente salta um jovem, procurando distanciar-se. Nem pensar!! Julguei cá para mim...
Saltei atrás dele e só descansei quando ele abdicou da fuga.Vitória! Senti cá dentro!!!
E eis que salta outro!!! E eu a dar-lhe caça logo a seguir. Mais uma vitória!!!
E assim por vários quilómetros.
Ninguém tinha autorização para sair daquele mini-pelotão, que eu não deixava...
Sentia-me o herói do dia, o Lance Armstrong do Montechoro...felicíssimo com a tareia que lhes estava a dar...Cada passo era uma pequena vitória!!!
E de repente, assim como se eu nem existisse, foram-se todos embora, ignorando-me completamente...Mantendo o pedalar constante com que sempre vieram continuaram estrada fora, e eu, esgotado pelas investidas palermas, e pelo puxar constante, fiquei vazio, sem força sequer para seguir na roda deles...aprendendo uma lição para o resto da vida.
Dizia o Che Guevara:"de derrota em derrota até à vitória final". Para mim foi de "vitória em vitória até à derrota final", pelo menos contra aqueles que formaram aquele pequeno pelotão.