segunda-feira, 12 de julho de 2010

184 - COM PELE DE GALINHA EM FUENTES DE ANDALUCÍA.




Três e meia da manhã. Toca o despertador para mais uma jornada de aventura por terras da Andaluzia. Se bem que me tivesse deitado já passando das onze, e tomado um comprimido para dormir, já estava acordado quando o despertador apitou. Talvez fosse da excitação, mas já estou habituado a estas andanças, não deve ter sido por isso. Penso que a causa está mais no facto de ser cozinheiro e de trabalhar aos sábados, portanto na véspera das corridas. O ter que trabalhar até tarde, o ter que me decidir se vou logo a seguir ao trabalho e dormir umas horas numas bombas de gasolina, ou se será melhor dormir umas horas em casa (à custa de um comprimido, claro, que em situações normais do dia-a-dia eu já tenho grandes dificuldades em adormecer), acordar bem cedo, fazer 3oo e tal quilómetros com sono, e chegar lá, montar-me na bicicleta e disputar uma corrida...
Mas pronto, lá fui. Ao chegar é sempre a mesma coisa, sou saudado efusivamente por quase toda a gente. Todos me conhecem, se bem que eu não os consiga conhecer a todos. Há uns que posso considerar bons amigos, afinal de contas até vieram já correr a Portugal, conhecemos-nos há anos, outros também os conheço mas não tenho com eles uma relação tão próxima, outros ainda parecem conhecer-me muito bem, cumprimentam-me amigavelmente, falam comigo, mas nem sei quem eles são, provavelmente já terei falado com eles alguma vez e não me recordo, por vezes acontece que sei quem são se estiverem vestidos de ciclista, mas se estão "à civil" não dá para os reconhecer. Principalmente o facto de terem ou não o capacete, faz uma grande diferença. Há também aqueles que me conhecem por este blogue, principalmente aqui em Portugal, me interpelam, e que eu nem imaginava que seguiam as minhas estórias.
Mal cheguei fui chamado para ser entrevistado. Não é a primeira vez que tenho que falar para uma câmara de televisão, mas há sempre um nervoso miudinho, que senti ao ver como o microfone me tremia na mão. Falar para uma câmara numa língua que não é a nossa..."e se perguntam qualquer coisa e eu não percebo?"...Bom, lá me desenrasquei, penso que até nem correu mal. Ficaram de ter um vídeo com o programa, da próxima vez que eu lá voltar.
A corrida foi anormalmente monótona. O ritmo foi sempre muito baixo, com excepção, claro, do troço de roda-livre, onde tive uma péssima prestação, o que aliás tem vindo a tornar-se um hábito, de há algum tempo para cá. Desta vez não havia táctica que desse certo, não era capaz de seguir na roda de ninguém, simplesmente não tinha força para aguentar os andamentos dos outros. Sei que eles treinam especificamente para cada corrida, fazem séries a subir "repechos" ou a escalar montanhas, treinam sprints e a cadência, e eu não posso, pela minha vida profissional, treinar como eles. Mas dantes isso não era um "handicap" para mim. Nunca fui dos melhores, bem pelo contrário, mas não tinha que lutar por não ser o último. Agora, talvez por não treinar como devia, não estou nunca em forma, em terreno plano até me desenrasco, mas assim que aparece uma subidinha é vê-los passarem-me sem qualquer dificuldade. E o problema é que me parece que tenho melhores prestações a treinar que na competição. Talvez por não saber dosear o meu esforço, e rebentar antes do tempo. Talvez por nunca ter sabido treinar convenientemente a cadência, e gastar energias desnecessárias com andamentos demasiado pesados. Não sei, mas o facto é que já não consigo ter as mesmas prestações, como há dois anos atrás.
Ao olhar para as classificações de outras corridas, é-me fácil verificar que antigamente podia bater rivais que hoje me deixam para trás. Será pelos quilos que ainda tenho a mais? Ou porque já não treino tanto como antes? Ou porque, com a criação do Circuito, eles andam todos a treinar muito mais que antigamente?
Uma vez mais, esta corrida de Fuentes de Andalucía efectuou-se debaixo de um calor infernal. Rezam as crónicas que no ano passado se correu com 43 graus. Este ano se não foi assim, foi lá perto...
Também uma vez mais corremos na auto-estrada. Depois de Joanesburgo, na Pick& Pay, este é o único lugar onde corri na auto-estrada (se não contar com a travessia da ponte na fronteira de Castro Marim, por ocasião do passeio do Campesino Clube).
Mas o que faz o título de hoje é uma outra estória. Uma estória de amizade que me fez ficar com pele de galinha. Ver uma sala inteira, numa pequena localidade do interior profundo de Espanha, toda a gente em pé a baterem palmas, palmas para mim, é algo que não seria nunca possível de descrever por palavras.
Quiseram os de Espartinas, em concluio com a organização, prestar-me uma homenagem pela minha constante participação nas suas corridas, e pela amizade que foi crescendo ao longo destes anos. E Don Manuel Carrasco, campeão da corrida, oferecer-me o troféu que ganhou com o seu suor. E fizeram-me subir ao palco, com toda a gente em pé a aplaudir, para uma das maiores demonstrações de amizade que alguma vez senti.
Outras vezes na minha vida os meus amigos me homenagearam. Os colegas de trabalho do hotel Riu, por exemplo. Ofereceram-me uma placa que guardo orgulhosamente entre os meus troféus dos concursos de cozinha. Ou a Juventude Desportiva das Fontaínhas, por tantas vezes exibir as suas cores nas corridas no estrangeiro. Mas há coisas que nos tocam fundo na alma. Como o estandarte oferecido pelo Núcleo Sportinguista de Portimão, só pela amizade. E esta grande manifestação de carinho de gente de outro país, que provam que a amizade e o companheirismo não têm fronteiras, que as fronteiras são só umas linhas imaginárias que não podem separar as pessoas, os corações , a solidariedade ou a amizade. A Don Manuel Carrasco, a Juan Leal, a Alejandro Barbosa, a Pepe Camino, a Cristina, a todos de Espartinas, mas também a Manuel Cascales de Lora, a Juan de Huelva, a Álvaro Prieto de El Rúbio, a Chiqui de Fuentes, e todos, de Sevilha, de Zafra, de Málaga, de Montehermoso, de Los Barrios, que me acolheram como se fora um deles, e sempre me trataram com o coração aberto, aqui deixo o meu sincero obrigado. E no mesmo dia que Espanha foi campeã mundial de futebol só lhes posso dizer:"enhorabuena". GRACIAS, ESPAÑA!!!

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