segunda-feira, 21 de junho de 2010

181 - ROTA SOPA DA PEDRA EM ALMEIRIM. FÁCIL.DIFÍCIL.FÁCIL.


Senti-me benfiquista ontem!
Tive o privilégio de alinhar vestido com a camisola da Casa do Benfica de Vila Real de Santo António, no Passeio por Equipas de Almeirim.
Era a minha segunda participação neste evento fantástico, que reúne equipas de cicloturismo de Norte a Sul do país. Tantas, que tendo nós partido em 6º ou 7º lugar, e após completarmos os 71 quilómetros deste contra-relógio por equipas, quando chegámos ainda havia equipas a alinhar à partida. Como no ano passado tive a grata surpresa de encontrar na prova os companheiros do Sotavento, e depois de tantas pedaladas juntos pelas estradas do nosso Algarve, o mais natural seria partilhar equipa com eles, ao que eles prontamente acederam, tendo mesmo trazido uma camisola da equipa, para eu ser mais um deles. Um abraço do tamanho do Mundo para eles, que me acolheram com a maior amizade. Não tenho cor clubística, mas ontem senti-me benfiquista...
Depois de umas semanas seguidas sempre a competir, sentia-me bem fisicamente, bem melhor que no início do ano, quando tinha mais 14 quilos. Ainda não os consegui perder completamente, mas estou no bom caminho. Tinha estado no "Terras do Infante", no "Portimão-Fóia", em Espartinas, e agora era o tira-teimas.
Não sei como nem porquê, mas os meus companheiros de equipa deram-me a roda da frente, assim que largámos de Almeirim. Não gosto dessa situação, porque fico com a sensação de responsabilidade, de ter que puxar pelos outros, e eu não iria querer decepcioná-los. Sou muito inexperiente, não costumo correr com outros, e sabia que se gastasse muitas energias me iria ser fatal lá mais para a frente. Mas sabia que iria ter de trabalhar para a equipa, teria que calhar a todos, logo outro me iria substituir na frente. Pelo que, sem forçar muito, mas mantendo um passo certinho e vigoroso, lá fui conduzindo a equipa.
E a coisa estava a correr tão bem, que ainda dentro de Almeirim, apanhámos a equipa que tinha partido antes de nós. E até Alpiarça fomos consecutivamente ultrapassando mais três ou quatro. E nem sinal de alguém estar interessado em me revezar na frente da corrida...
Até que o Vargas saltou lá de trás para pôr ordem na corrida, mandando-me descansar, e fazendo avançar outro. E assim fomos pedalando uns quilómetros até sermos apanhados por duas equipas que vinham de trás, e que se colaram a nós, tendo daí advindo que o ritmo baixou consideravelmente, já que ninguém queria trabalhar para os outros, e a corrida morreu. Era como se tivéssemos subitamente passado de um contra~relógio para um vulgar passeio de cicloturismo. Em vez de mantermos um ritmo certo, passámos a ter que fazer uso dos travões, e a evitar a roda do que nos precedia. Desejei muito que saíssemos dali, e tentei incentivar os mais jovens da nossa equipa a trabalharem, para deixarmos os outros para trás. O que eles fizeram, mas se me revelou fatal. Na casa do Benfica correm dois putos mesmo bons, e quando eles pegaram na corrida esfrangalharam completamente o pelotão que se havia formado. No primeiro arranque deixaram mais de metade para trás, e com o decorrer da corrida só os melhores se mantiveram com eles. Compreendi que se alinhasse naquilo iria depois pagar bem caro. Até aí tinha sido fácil, muito fácil, mas agora estava a ficar no elástico. Preferi abdicar, podia ter feito um esforço para me manter com eles, mas mais cedo ou mais tarde não iria aguentar, e iria ficar vazio, pelo que era preferível esperar por uma equipa que viesse de trás, e que trouxesse um ritmo acessível.
Só que...a única equipa que apareceu, os do Cartaxo, ou traziam o Contador, o Basso e o Armstrong com eles, ou beberam gasolina ao pequeno-almoço...Não pedalavam, voavam!!! Com rodas lenticulares, atitude de profissional, até metiam medo...Encolhi-me e deixei-os passar, nem esbocei uma tentativa de ir com eles. Fiquei sozinho, era mesmo o que eu não desejava. Sabia que sozinho não ia a lado nenhum, é chover no molhado, ir-se-ia revelar difícil, muito difícil mesmo.
Lá à frente pedalava um que se via que podia ser útil. Tinha atitude.
Fui ultrapassando muitos que haviam ficado para trás, mas eram gente que não podiam ajudar, já iam rebentados. Aquele lá mais à frente é que me interessava.
E ele não percebia que devia esperar por mim...
Até que lá logrei chegar até ele. Segui uns minutos na sua roda. Depois passei para a frente, para ser eu a puxar. O que ele interpretou como um desafio...E arrancou a ver se me largava. Segui-lhe na roda, e quando deu sinais de fraqueza voltei a puxar, podíamos colaborar, teríamos mais hipóteses de chegar a um grupo mais avançado.
Mas ele nunca entendeu assim...Sempre achou que estava a disputar qualquer coisa comigo...
Bom, fosse como fosse, a verdade é que acabámos por fazer muitos quilómetros em companhia, se bem que extenuantes.
Até que finalmente surgiu atrás de nós uma equipa inteira, mais uns tantos pendurados.
Pendurei-me eu também.
O meu companheiro de infortúnio voltou a não entender as coisas...Pedalou por um quilómetro ou dois à frente dos outros, tentando não ser alcançado, o que naturalmente não seria possível. Por minha parte instalei-me confortavelmente no meio deste pequeno pelotão, e deixei-me conduzir até à meta. O meu companheiro rebentou e ficou para trás, voltando a pedalar sozinho...
Voltava a ser fácil. No meio do pelotão não se sofre, basta ir com eles.
Quando cheguei havia ainda equipas a partir. Tempo para uma agua e um duche, antes da sopa de pedra que nos iriam servir daí a pouco.
No ano que vem não vou faltar. É uma corrida com muitas emoções. Não se pode desperdiçar.

1 comentário:

  1. Olá Sr. João Santos,
    É com muito prazer que leio as suas palavras e saber que gosta do nosso/vosso passeio. È a ler estas palavras aqui escritas e saber as emoções vividas que nos dá mais força e animo para continuar a organizar estes passeios.
    Será sempre muito bem vindo.

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